"Fui pressionada pela Aeronáutica a convencer as pessoas atingidas pelas luzes conhecidas por chupa-chupa de que elas estavam sendo vítimas de uma alucinação coletiva e que aquilo que elas viram nunca existiu”.
Quem afirma isso, após ler a reportagem publicada na edição de ontem de O LIBERAL sobre o fenômeno que mobilizou e apavorou as comunidades de Colares, Vigia, Santo Antônio do Tauá, Mosqueiro e Baía do Sol, no final de 1977 e primeiro trimestre de 1978, é a médica Wellaide Cecim Carvalho, que à época era a diretora da Unidade Sanitária de Colares. Foi ela quem atendeu cerca de 80 pessoas atingidas pelas luzes misteriosas.
Wellaide Cecim Carvalho
“Quem teve contato com as primeiras pessoas ‘agredidas’ pelo fenômeno chupa-chupa fui eu. Apesar de na época ter 22 anos de idade e de ser extremamente cética, comecei a perceber alterações inexplicáveis para a medicina. As queimaduras na pele das vítimas eram geralmente no pescoço e no hemitórax, acompanhadas de dois pequenos furos paralelos, como se fossem mordidinhas, mas que na realidade não eram”.
Doutora em saúde pública e psiquiatra, Wellaide Cecim observa que após 60 dias de ocorrências diárias, que ultrapassaram mais de 120 casos, ela começou a produzir relatórios para a coordenação da Secretaria Executiva de Saúde (Sespa). Foi aí que aconteceu algo que ela não esperava: foi proibida pela Sespa de admitir que algo de estranho tivesse acontecido. “Mas, por eu ser uma pessoa muito fiel a aquilo que eu vejo e não a aquilo que eu escuto, continuei falando, mesmo correndo o risco de ser demitida , porque na época não era concursada”. Veja a seguir a entrevista dela ao repórter Carlos Mendes, de O LIBERAL.
As autoridades públicas não viram o fênomeno, mas mesmo que tivessem visto não acreditariam...
Nem sequer foram me visitar. Fui eu quem descobri que as pessoas atingidas pelas luzes perdiam hemácias. Sempre fui perfeccionista na minha profissão, desde aquela época. E quando observei que perdiam sangue, isso foi em função de uma pesquisa que eu fiz para saber porque as pessoas eram acometidas de extrema astenia, apatia e até inapetência, porque não podiam andar. Fiz inúmeros relatórios para o então secretário de Saúde na época.
Quem era o secretário de Saúde?
O dr. Manoel Ayres. E o meu superior imediato na Sespa era o dr. Luiz Flávio Figueiredo de Lima, que me proibiu que eu falasse, comentasse ou concordasse com a população. Só que, você sabe, qualquer pessoa, e não precisa ser médico para saber, uma queimadura só apresenta necrose da pele após 96 horas. Só que as queimaduras das vítimas das luzes apresentavam necrose da pele imediata, cinco minutos após o acontecido.
Qual a explicação para isso?
Aí é que é a história: eles (os seres que pilotavam os objetos luminosos) não poderiam ser russos, porque por mais avançada que fosse a tecnologia que os russos tivessem na época, ninguém seria capaz de produzir queimaduras num ser humano daquela forma.
Como psiquiatra, a sra. acredita que as pessoas foram vítimas de uma histeria coletiva?
Isso foi o que a Aeronáutica me solicitou a vida inteira para que eu dissesse. Não existiu histeria coletiva e muito menos alucinações visuais coletivas. A psiquiatria prova que não. Você pode ter problemas místicos coletivos nos quais as pessoas se suicidam em massa. Mas ninguém pode ter o mesmo delírio, a mesma alucinação visual, auditiva ou senestésica, ao mesmo tempo e em locais diferentes.
Quem pediu que a Aeronáutica investigasse o caso?
Já que ninguém me socorria, pelo contrário, pediam que eu me calasse, o prefeito de Colares na época, Alfredo Ribeiro Bastos, foi quem solicitou a presença da Aeronáutica. Veio do Paraná o presidente da Sociedade Paranaense de Ufologia, o biomédico, ufólogo e filósofo Daniel Rebisso Giese, com que escrevemos em parceria o primeiro livro sobre o assunto “Vampiros e Extraterrestres na Amazônia”. Quem também pediu ajuda foi o padre de Colares, que também era médico otorrinolaringologista, Alfredo de La Ó, já falecido.
O que mais a magoou nesse caso?
Foi o fato de com 22 anos e ser diretora da Unidade Sanitária, ter pessoas na minha frente que precisavam ser pesquisadas, para se saber porque estavam inapetentes e porque não conseguiam andar ou falar. Procurar no arquivo os últimos exames realizados de hemograma e comparar com o atual, para descobrir que eles estavam com baixíssimas taxas de hemácias e baixíssimas taxas de hemoglobina. A característica é que nenhum objeto pode causar necrose de pele por queimadura tão imediata. O terceiro fator é a alopécia, que é a queda definitiva e a impossibilidade de nascimento de pelos por toda a vida. As pessoas atingidas nunca mais tiveram pelos nascidos no local das queimaduras.
Quando a Aeronáutica apareceu na região?
Só depois de 90 dias do nossos pedidos, quando Colares estava assustada e esvaziada, que a Aeronáutica deu o ar de sua graça. E como vivíamos numa época de ditadura, eles sempre me chamavam diariamente, para que eu convencesse a comunidade de que eles estariam sofrendo alucinação coletiva, mas eu me recusava.
Diante dessa pressão dos militares do serviço secreto da Aeronáutica, o que a senhora fez?
Eu me recusei a fazer isso. E sempre questionei a eles que os desobedeceria. Eu discordo quando eles dizem no relatório que eu temia ser ridicularizada. Eu não me importo com isso. Já dei entrevista à TV Liberal, à TV Cultura, a emissoras de televisão dos Estados Unidos e da Europa, mesmo à época sendo funcionária da Sespa ainda não concursada. Apesar de cética, o que eu vi tenho certeza absoluta de que foi verdadeiro. Não sei o que é, mas que é verdade, é.
A sra. também viu os seres do espaço, assim como o capitão Uyrangê Hollanda, que chefiava a investigação pela Aeronáutica?
Eu vi, às cinco horas da tarde, uma nave a 50 metros de altura, em plena rua principal de Colares. E dentro dessa nave havia um ser com 1,20 a 1,30 metro. Isso aconteceu na hora em que eu me deslocava para a Unidade Sanitária para atender uma criança que tinha quebrado a clavícula e eu ia fazer a imobilização. Fiquei totalmente à mercê deles (seres), porque estavam tão baixo que eu via o brilho do metal do Ovni, que não tinha a forma discóide, mas de um cone ou de um cilindro. O trajeto dela era elíptica. Às cinco horas da tarde você não pode ser enganado pela visão. Pode até delirar ou alucinar, mas antes de mim, quantos teriam alucinado ou delirado.
Alguém morreu após ser sugado pelas luzes dos óvnis?
Duas pessoas que eu transportei para o Hospital dos Servidores, em Belém, morreram. Eu as trouxe no meu carro. Só que quando foi fornecida a declaração de óbito, eles colocaram “causa desconhecida”, mesmo com as queimaduras, os orifícios, os exames comparativos. Ou seja, é muito fácil neste país você se esconder.
“Operação Prato” coletou depoimentos daqueles que avistaram as luzes.
Pescadores, trabalhadores rurais, pessoas humildes, comuns, atingidas pelas luzes foram entrevistadas pelos militares da Aeronáutica entre novembro de 1977 e primeiro trimestre de 1978. O que elas narraram faz parte do relatório da “Operação Prato”, documento da Aeronáutica assinado pelo capitão Uyrangê Hollanda e cujo conteúdo foi obtido por O LIBERAL.
Adelaide Pereira da Silva, 37 anos, analfabeta. Local: Colares, às 21 horas do dia 16 de outubro de 1977. Percebeu que o quarto de sua residência foi iluminado por uma luminosidade avermelhada que se espelhava por todo o interior da residência.
Estando com as portas e janelas fechadas, entreabriu a janela e avistou um corpo luminoso de coloração azul muito forte que se movimentava lentamente pouco acima das árvores (30m) próximas; que sentiu dor intensa nos olhos e amortecimento em todo o corpo, permanecendo esta sensação durante vários dias.
Maria Celeste Pereira da Silva, 20 anos, alfabetizada. Sua visão do óvni ocorreu no dia 18 de outubro de 1977, às 22 horas. No mesmo instante em que sua mãe Adelaide percebeu a luminosidade que invadiu o interior de sua residência, sentiu dor intensa por todo o corpo, como se fosse fortemente comprimida; um amortecimento a partir dos pés, calor intenso difuso desde o ombro direito até a cabeça. Julga ter sido atingida diretamente no lado direito do corpo por um foco de luz de cor avermelhada.
Maria Francisca Furtado, 30 anos, instrução primária. narrou que no dia 18 de outubro de 1977, por volta das 21h30, presenciou o seguinte fato: reside um pouco afastada da localidade conhecida por Vila Nova do Ubintuba. Com a grande incidência dos aparecimentos da luz deslocam-se ela e seu companheiro diariamente para a residência do sr. Miguel Arcângelo Soares, onde dormem várias famílias.
Naquela dia, ela foi atingida pelo foco da luz, tendo ficado semi-paralisada; ao ser atingida, sentiu uma espécie de choque elétrico, inicialmente seus pés aqueceram e um tremor tomou conta de seu corpo a partir dos pés até a cabeça, com amortecimento no lado direito do corpo. Esta sensação perdurou por uma hora, sobrevindo dor de cabeça e fervidão. Não foi para o exterior da residência, em consequência não viu o “aparelho”.
Homens e mulheres dizem que sentiram os mesmos sintomas após visão de objeto
O agricultor Abel Soares Trindade, de 28 anos, estava no interior de sua residência, ouvindo rádio, quando por volta das 21h30 do dia 14 de setembro de 1977 percebeu uma luminosidade azulada que se infiltrava através da cumeeira da casa. Ele ficou semi-paralisado, sentindo como se sua cabeça aumentasse de volume; gritou por socorro após muito esforço, pois sua voz não saía da garganta. Passou após o incidente vários dias com dor de cabeça e rouco. Idênticos sintomas foram narrados por América Silva Soares, 23 anos, mulher de Abel.
Outro depoimento foi o de Raimundo Nonato Barbosa, o “Birro”, 48 anos. Contou que voltava para sua residência pela capoeira, quando ao se aproximar da residência de um amigo, sentiu como se perdesse as forças. Os sapatos que trazia em uma das mãos caiu no chão, juntou-os e continuou a caminhar. Os sapatos voltaram a cair.
Quando abaixou-se para juntar os sapatos novamente, olhou por sobre o ombro e observou um objeto iluminado, de forma circular “como uma arraia”, com 1,50 metro, aproximadamente, deslocando-se a baixa altura - entre cinco a dez metros sobre o solo.
O objeto emitia um foco de luz dirigido - como uma lanterna - de cor azul muito intensa, em sua direção. Muito assustado, Raimundo “Birro” reuniu suas forças e conseguiu correr até a casa do amigo, gritando por socorro.
Na corrida, ao olhar para trás, percebeu que o “objeto” movimentava-se para o alto entre as árvores, deixando atrás de si uma esteira de faíscas luminosas multicoloridas. Queixa-se de tremor no corpo, dor de cabeça e entorpecimento da região atingida pelo foco.
Não foi observado sintoma de queimaduras. Desenhou no chão a forma do objeto representando a “esteira luminosa” por três linhas estas dispostas entre si em ângulo de 20 graus com pequenos círculos ligados às linhas, que disse serem como luzes diversas de cores. Não foi capaz de passar para o papel.
Cinco pescadores contaram aos militares que avistaram dois seres dentro de nave
Um suposto contato imediato de primeiro grau entre cinco pescadores de Colares e uma nave que seria pilotada por seres extraterrenos teria ocorrido no dia 12 de outubro de 1977, às 23h30. No depoimento prestado aos militares da Aeronáutica durante a “Operação Prato”, o agricultor Manoel Espírito Santo, 20 anos, instrução primária, contou como tudo aconteceu.
Ele disse que se encontrava em frente a sua residência juntamente com seus amigos Júlio, Paulo, Deca e Carlito, quando percebeu uma luz amarela que se deslocava no sentido nascente-poente, diminuindo a velocidade e quase parando a cerca de 20 metros do grupo. Manoel afirma ter percebido que a “luz” era tripulada por dois indivíduos de aparência humana, sendo que o “homem” ocupava o lado esquerdo e a mulher o lado direito do “aparelho”.
Ambos portavam nos olhos algo semelhante a óculos e equipamento de comunicação; o indivíduo da esquerda levou as mãos aos “óculos” como se observasse mais atentamente ao grupo de pessoas; no mesmo instante o outro, através de um tubo existente na lateral, dirigiu um feixe luminoso de cor vermelha em direção ao grupo.
Ao ser atingido pelo foco, Manoel sentiu um forte abalo, como se tivesse sofrido um choque elétrico. A sensação subiu dos pés até a cabeça. Ocorreu em seguida a paralisação de seus membros inferiores e superiores e semi-inconsciência.
O aparelho afastou-se gradativamente aumentando a velocidade. Manoel voltou a movimentar-se, embora ainda estivesse se sentindo entorpecido durante alguns minutos.
À distância, segundo Manoel, o “aparelho” assemelhava-se a uma estrela de cor amarelo-avermelhada; trocava a cor do amarelo claro para o vermelho, quando mais próximo, observou uma luminosidade azulada na parte frontal superior. Ele tinha a forma cilíndrica de um barril, com um tubo de menor diâmetro, avermelhado, a sua frente e um outro mais fino na lateral, a 45 graus, de onde era emitido o feixe de luz azulada. Tamanho aparente de 1,20 a1,40 metro, dava ideia de transparência - parte luminosa azulada -, com uma divisão entre seus tripulantes.
Fonte: Jornal O Liberal