terça-feira, 16 de novembro de 2010

A persistência arredia e a esquiva em torno da realidade ufológica

 

Hipótese de vida inteligente fora da Terra poderia significar, para muitos, uma diminuição daquilo que imaginam sobre si mesmos

Recentemente, duas reportagens duvidosas foram veiculadas na grande mídia, banalizando os fenômenos ufológicos. A primeira delas, expôs de forma detalhada uma evidente fraude, ocorrida no interior do Mato Grosso do Sul. Embora tenha tentado manter o tom investigativo, não conseguiu ocultar sua intenção de ridicularizar o assunto. Tal matéria foi ao ar em 10 de outubro, no Domingo Espetacular, da Record.

Já a segunda tratou do conhecido Caso Varginha e foi exibida pelo Jornal da Band numa terça-feira, dia 19 do mesmo mês. Nesse último caso, o tema abordado foi uma suposta investigação oficial, realizada pelo Exército Brasileiro, sobre o famoso ET que teria aparecido no interior de Minas Gerais - reportagem que, aliás, veio na esteira de uma matéria da revista IstoÉ.

O que chama a atenção na forma como o Fenômeno UFO foi abordado nesses trabalhos jornalísticos de empresas importantes em nosso país, não é propriamente seu conteúdo informativo, mas o ponto de vista caricatural e, a priori, cético, que elas adotaram. Tudo se passou como se a Ufologia não fosse mais que um disparate completamente amalucado, um passatempo de fanáticos delirantes que, num caso, entregam-se credulamente aos embustes de um oportunista e, noutro caso, concluem uma história extraordinária e fartamente investigada a partir de frágeis testemunhos de adolescentes.

Mesmo na segunda reportagem, que tratou da investigação de uma instituição séria (o Exército), os argumentos usados para descartar a hipótese de um caso ufológico expressivo, ocorrido em 1996, são completamente precipitados e pueris. Tudo leva a crer que a intenção dos órgãos oficiais do Estado e da mídia brasileiros é justamente a de apagar da memória coletiva a hipótese, perfeitamente plausível num universo composto por milhões de galáxias, de vida extraterrestre.

A divulgação de matérias céticas obtusas como essas pretendem remover uma suspeita (ou mesmo, em alguns casos, uma convicção) cultivada por muita gente sensata. E se é preciso empenho para destruir uma "crença" - como dizem -, significa que esta mesma já se assentou em muitos espíritos e que, de alguma maneira, exerce influência.

Se a inexistência de vida alienígena fosse um ponto pacífico, uma absoluta verdade, isso se imporia sem esforços. Mas o fato é que as dúvidas que pairam sobre o assunto nos convidam a adotar uma atitude mais prudente, uma atitude intermediária, entre a credulidade incondicional e a descrença radical. Sem fanatismo e sem ceticismo. Eis o ponto de vista neutro no qual podemos nos posicionar de modo mais racional e crítico.

Ao que parece, a obstinada recusa geral em discutir o Fenômeno UFO de maneira respeitosa indicaria que, no fundo, a humanidade tem um forte motivo psicológico para recusar a hipótese de vida extraterrestre. Trata-se, para usar a terminologia de Freud, da quarta “ferida narcísica”, o quarto ataque à importância do homem no universo.

Conforme o texto de Freud, a humanidade enfrentou três golpes decisivos em sua auto-imagem: a revolução copernicana, que retira nosso planeta do centro do universo, o darwinismo, que retira o homem do centro da vida e a psicanálise, que retira a consciência do centro do psiquismo.

Por fim, a hipótese de vida inteligente fora da Terra poderia significar, para muitos, uma diminuição tão atroz quanto aquelas da dignidade do homem, pois concebe a possibilidade de formas de inteligência iguais ou até mesmo superiores à nossa. Evidencia que podemos não ser os únicos seres capazes de explorar e dominar as forças da natureza. Ou, mais radicalmente, pode mostrar que ainda somos cognitiva e tecnologicamente grosseiros, quando comparados com outras formas de existência.

De resto, o teor quase zombeteiro de tais reportagens só vem confirmar que, quando se trata dos fenômenos ufológicos, há sempre uma recusa em levar a sério o assunto e discuti-lo sensatamente. É mais fácil rir, pois o riso é a forma contemporânea de censura. E, a ridicularização descarada, a fogueira na qual queimamos nossos hereges.

Por outras razões, também Copérnico temeu a divulgação de suas convicções astronômicas. É sabido que Darwin sofreu resistências de todo tipo. E a psicanálise, por muitos anos, foi assunto de bastidores e jamais de congressos acadêmicos oficiais.

A Ufologia, atualmente, percorre o mesmo caminho pedregoso, impregnado de preconceitos, que um dia pode levá-la a um reconhecimento mais maduro. Talvez, num futuro não muito distante, o homem terá enfim a coragem para encarar de frente o enigma do universo em que habita.

Este assunto está na edição 170 da revista UFO.

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