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às 17:43
ARQUIVOS SECRETOS DA AERONÁUTICA SOBRE ÓVNIS EM NATA/RN.
Noite de 13 de outubro de 2015. Áudios que começam a circular pelo Whatsapp
dão conta de um “disco de voador” sobrevoava a cidade de Angicos, a 170 km de
Natal. Os relatos de moradores assustados ao verem as luzes do que
posteriormente seria identificado como um drone que fazia fotos aéreas do
município foram reproduzidos em inúmeros sites de todo o país.
O inusitado caso no município da Região Central potiguar virou chacota, mas a
ocorrência de Objetos Voadores Não-Identificados (OVNIs) é caso sério. Sim, eles
existem e já apareceram algumas vezes no Rio Grande do Norte segundo os
registros confidenciais recentemente liberados pela Força Aérea Brasileira (FAB)
e disponibilizados através do Arquivo Nacional.
Para se ter uma ideia, a Aeronáutica brasileira possui arquivos de aparições
de objetos não-identificados desde o início da década de 1950. Os documentos
liberados pela FAB dizem respeito a um período de 1952 a 2010. O Comando de
Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra) apontou, em dois relatórios, 710
ocorrências em todo o país entre 1954 e 2005.
A reportagem do NOVO encontrou, em consulta ao Sistema de Informações do
Arquivo Nacional (Sian), alguns documentos relativos a OVNIs avistados nos céus
potiguares, muitos dos quais fora dos relatórios do Comdabra.
E diferentemente do caso em Angicos, um dos casos documentados pela Força
Aérea no RN envolve um profissional dos ares, especificamente um piloto da
companhia aérea Varig, extinta em 2006.
Passava pouco das 6h30 do dia 28 de junho quando o vôo 2348 da Varig, entre
Recife-PE e Natal se encaminhava para chegar à capital potiguar. O piloto, que
não é identificado na ocorrência com “tráfego hotel” – eufemismo utilizado pela
Aeronáutica para avistamento de OVNI – anotada pelo Sargento Aragão, relatava um
céu “cavok”, um termo utilizado pelos aviadores para o popular “céu de
brigadeiro”.
A pouco menos de 40 km de Natal e já em processo de diminuição de altitude,
em contato com a torre de controle do Aeroporto Augusto Severo, o comandante do
vôo passa a relatar que uma luz de intensidade variante estava seguindo o avião,
pelo lado esquerdo. “Pela apresentação radar não havia nada, nenhum outro
tráfego naquele local”, anotou o Sargento Aragão. A luz seguiu o avião da Varig
até ele descer no antigo aeroporto internacional, em Parnamirim, por volta das
6h50.
A ocorrência mais recente de avistamento de OVNI apontada nos documentos
liberados da Aeronáutica foi em 19 de julho de 2009.
Por uma hora e 30 minutos, a geógrafa Josiane Moura da Rocha relatou ao 1º
Tenente Antônio Maerton de Medeiros Lopes ter visto dois objetos de cores azul e
vermelho trafegando em zigue-zague por cima da Lagoa do Carcará, em Nísia
Floresta.
De acordo com o relatório encaminhado para o Comdabra, os objetos tinham
formato de estrela e alternavam momentos de movimentação rápida e lenta, sem
deixar rastros ou emitir sons.
Contato de rebocador com “luzes” no RN foi parar no comando da FAB
O único caso envolvendo o RN incluído nos relatórios liberados do Comdabra
sobre OVNIs foi em 1980. O documento de 43 páginas produzido pelo
Tenente-Coronel Aviador Francisco José Hennemann Filho, diretor do Centro de
Lançamento de Foguetes da Barreira do Interno (CLFBI), foi parar no gabinete do
Tenente-Brigadeiro Délio Jardim de Mattos, então comandante da Aeronáutica,
marcado com o assunto “OVNI”. O relatório também envolveu o 3º Distrito Naval da
Marinha, que repassou inicialmente o caso para a FAB.
O rebocador Caioba Seahorse reportou, através de mensagem por rádio, por
volta das 19h do dia 27 de julho daquele ano terem avistado “objeto todo
iluminado exclusivamente com luzes branca a cerca de 100 metros de distância
pela proa”, a uma altura entre 50 e 60 metros. O barco estava a cerca de 12
milhas (19,3 km) da praia de Pititinga, no Litoral Norte potiguar.
Os relatos feitos pelo marinheiro Ivan de Souza Melo e o imediato português
Fernando Fangueiro indicam que uma luz parecida com a “estrela d’alva” pairava
sobre o oceano, entrava na água, sumia e depois voltava a brilhar. O objeto
também emitia luzes azul e laranja, além de reluzir um facho branco em direção
ao mar.
A lancha Teche Seahorse, que dava apoio logístico com sinal de rádio e radar,
não relatava nenhum outro navio na região, apesar dos ocupantes do rebocador
verem as luzes – ocupantes da lancha também relataram ter visto uma iluminação
branca muito forte, próxima ao rebocador. Tanto a lancha como o rebocador faziam
parte da frota Seahorse no Brasil, operada pela Arthur Levy INC.
O alerta sobre a luz foi dado por pelo marinheiro Ivan de Sousa Melo ao
comandante do rebocador, José da Silva. “Comandante, olhe esta luz à proa do
rebocador, parece um farol”, falou Ivan. Após avistarem o objeto, os marinheiros
resolveram desligar o barco, que ficou à deriva e há cerca de 50 metros do
objeto até enquanto o contato não terminou.
A distância estimada era de seria de três milhas náuticas do Caioba e a uma
altura de 60m, segundo os relatos do comandante. O objeto tinha forma de um
prato, grande, parado no espaço, e cujo diâmetro aparente seria o dobro do
diâmetro da lua. “Olha gente, se existe disco voador nós estamos vendo um”,
falou o comandante aos marinheiros, antes de comunicar o fato por rádio.
Após alguns minutos de avistamento, de acordo com o relato do comandante à
FAB, a luz afastou-se no rumo sudoeste, para a terra, com “uma velocidade
incrível, subindo, ganhando a altura, desaparecendo em menos de um segundo”.
O Tenente-Coronel Francisco José Hennemann Filho terminou por concluir, em
novembro de 1980, que não se tinha “nenhuma evidencia de que houvesse a presença
de algum veículo aeronavegante nas imediações do Gaioba Seahorse”.
Aeronáutica tem manuais para tratar de OVNIs
A Força Aérea trata os casos de avistamento de OVNI com extrema seriedade.
Existem protocolos, manuais e questionários desde a década de 1960. A última
leva de documentos liberados pelo órgão supera as 4,5 mil páginas de relatórios,
croquis e depoimentos apontados por oficiais da FAB em mais de cinco décadas.
E isso seria, de acordo com os ufólogos, só uma parte dos documentos
oficiais. Como no caso da Operação Prato, no Para, quando um grupo da
Aeronáutica passou mais de um ano entre 1977 e 1978 registrando as “naves
chupa-chupa” na região de Colares.
O capitão Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima, que comandou o
grupo e presidiu o relatório, chegou a contar anos depois que teve contatos de
primeiro grau com supostos extraterrestres durante a operação. Os ufólogos
reclamam mais de 900 páginas de documentos e fotos da Operação Prato teriam sido
suprimidas pela FAB da divulgação recente.
A força armada também teria escondido informações da “noite dos discos
voadores”, em 19 de maio de 1986, quando foram vistos OVNIs em diversos locais
do Brasil.
A Aeronáutica chegou a formar um órgão específico para investigar os OVNIs
nos céus do Brasil. Criado em 1969, o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos
Não Identificados (Sioani) atuou de forma secreta por três anos, com membros da
Força Aérea e civis ligados à ufologia. O Sioani registrou mais de quando mais
de cem casos, até ser extinto pelo governo militar. O protocolo do órgão era
rígido. Quem relatava ter visto algo passava até por exames psiquiátricos.
Uma “coisa de outro mundo” aparece no Forte dos Reis Magos
Muito mais do que os relatos oficiais, as histórias “oficiosas” abastecem há
tempos a questão dos OVNIs. Uma busca rápida na internet aponta uma série de
histórias, vídeos e imagens de objetos não-identificados que foram vistos por
potiguares nos anos recentes. E boa parte desses relatos extraoficiais – até o
astronauta brasileiro Marcos Pontes conta um caso da época que era piloto da FAB
que não foi registrado oficialmente – alimenta tanto os trabalhos dos ufólogos,
assim como o ceticismo dos contrários. A própria Aeronáutica estima que apenas
10% dos avistamentos sejam relatados.
O NOVO ouviu um homem, morador de Natal, que decidiu contar dois casos de
avistamento de OVNIs na capital potiguar. O relatante, um militar aposentado,
não quis se identificar, com temor de que seus relatos tornem-se motivo de
ironia e gozação. “Mas não tem nenhuma mentira. Não tenho para que mentir”,
garantiu o homem de 49 anos.
O primeiro foi no fim da década de 1970. Ele pescava com mais duas pessoas
nas imediações do Forte dos Reis Magos, em uma madrugada de céu claro. Enquanto
jogavam redes e linhas na região de encontro do oceano com o Rio Potengi, de
repente uma grande bola com luzes amarelas e laranjas surgiu do mar. Por alguns
segundos ela pairou, suspensa na água, e seguiu em alta velocidade na direção de
Ponta Negra. Minutos depois ele diz ter visto caças da Força Aérea passando pela
região.
“Eu jamais vou esquecer da frase de seu Manoel: corra meu filho, que isso é
coisa do outro mundo. Deixamos todo o material de pesca lá e fomos correndo na
direção de Brasília Teimosa. Só voltamos no dia posterior, para recolher o
material. Foi um susto muito grande”, relembra ele.
O outro avistamento da fonte ouvida pela reportagem foi um pouco mais
“tranquilo”. Em meados de 1985, ele estava na casa da então namorada, na Zona
Oeste da capital potiguar, quando começou a ver, junto com ela e o cunhado,
luzes giratórias no céu.
“Pelo movimento não era avião, nem helicóptero. Eu era militar e meu cunhado
também. Resolvemos ligar para a Base Aérea de Natal e contar a situação. Um
tempo depois vieram uns caças, mas as luzes já tinham seguido em direção ao
Oeste”, conta.
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