Os físicos passaram décadas tentando conciliar duas teorias muito diferentes. Mas haverá um vencedor prestes a surgir – e transformar nossa compreensão de tudo, do tempo à gravidade?
É o maior dos problemas, é o menor dos problemas. No momento, os físicos têm dois manuais separados que explicam como a natureza funciona. A relatividade geral diz respeito à gravidade e todas as coisas que ela domina: planetas em órbitas, galáxias em colisão, a dinâmica do universo em expansão como um todo. Isso é grande. E então, há a mecânica quântica, que lida com as três outras forças – o eletromagnetismo e as duas forças nucleares. A teoria quântica é extremamente hábil em descrever o que acontece quando um átomo de urânio decai, ou quando partículas de luz individuais atingem uma célula solar.Isso é pequeno.
Agora, o problema: a relatividade e a mecânica quântica são teorias fundamentalmente diferentes, que têm formulações diferentes. Não se trata apenas de terminologia científica; é um confronto de descrições da realidade verdadeiramente incompatíveis.
O conflito entre as duas metades da física vem se desenvolvendo por mais de um século – desencadeado por um par de artigos de 1905 escritos por Einstein, um descrevendo a relatividade, e outro apresentando a quântica – mas recentemente, ele ingressou em uma intrigante e imprevisível nova fase. Dois notáveis físicos defenderam posições extremas em seus campos, conduzindo experiências que poderiam finalmente estabelecer qual das abordagem é a mais importante.
Basicamente, pode-se pensar na divisão entre os sistemas da relativísticos e quânticos como “regular, contínuo” versus “fracionado”. Na relatividade geral, os eventos são contínuos e determinísticos, o que significa que toda causa corresponde a um efeito específico local. Na mecânica quântica, os eventos produzidos pela interação de partículas subatômicas ocorrem aos saltos (sim, saltos quânticos), com resultados probabilísticos em vez de determinados. As regras da mecânica quântica permitem conexões proibidas pela física clássica. Isso foi demonstrado em uma recente experiência, muito discutida, na qual pesquisadores holandeses desafiaram o efeito local. Eles demonstraram que duas partículas – no caso, elétrons – podiam influenciar-se mutuamente instantaneamente, embora estivessem separados por uma distância de uma milha. Quando se tenta interpretar leis relativísticas regulares, contínuas, de uma maneira quântica fracionada, ou vice versa, as coisas dão terrivelmente errado.
A relatividade apresenta respostas insensatas quando se tenta reduzi-lá à escala quântica, acabando por descer a valores infinitos em sua descrição da gravidade. Da mesma forma, a mecânica quântica enfrenta sérios problemas quando se tenta leva-la a dimensões cósmicas. Os campos quânticos carregam certa quantidade de energia, mesmo em espaços aparentemente vazios, e a quantidade de energia aumenta á medida que o os campos aumentam. Segundo Einstein, energia e massa são equivalentes (esta é a mensagem da fórmula E=mc2), de forma que estocar energia é exatamente o mesmo que estocar massa. Basta crescer o suficiente que a quantidade de energia nos campos quânticos torna-se tão grande que cria um buraco negro que faz com que o universo se dobre sobre si próprio. Oops.
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‘A mecânica quântica forneceu as ferramentas conceituais para o Grande Colisor de Hádrons.’
Craig Hogan, astrofísico teórico da Universidade de Chicago e diretor do Centro para Astrofísica de Partículas do Fermilab, está reinterpretando o lado quântico com uma nova teoria segundo a qual as unidades quânticas de espaço em si podem ser suficientemente grandes para serem estudadas diretamente. Nesse ínterim, Lee Smolin, membro fundador do Instituto Perimeter de Física Teórica em Waterloo, Canadá, está procurando levar a física adiante retornando às raízes filosóficas de Einstein e levando-as para uma direção emocionante.
Para entender o que está em jogo, olhe os antecedentes. Quando Einstein revelou a relatividade geral, ele não apenas superou a teoria da gravidade de Isaac Newton; ele também lançou uma nova forma de ver a física que levou à moderna concepção do Big Bang e buracos negros, para não falar da bomba atômica e dos ajustes do tempo essenciais para o GPS dos telefones. Igualmente, a mecânica quântica fez muito mais que reformular as equações de eletricidade, magnetismo e luz do livro de texto de James Clerk Maxwell. Ela forneceu as ferramentas conceituais para o desenvolvimento do Grande Colisor de Hádrons, células solares, e todos os microeletrônicos modernos.
O que surge da querela poderia ser nada menos que uma terceira revolução da física moderna, com implicações surpreendentes. Algo que poderia nos dizer de onde vêm as leis da natureza, e se o cosmos é feito de incerteza ou se é fundamentalmente determinístico, com cada evento definitivamente relacionado a uma causa.
O pequeno é belo
Hogan, campeão da visão quântica, é o que se pode chamar de físico de poste de iluminação: em vez de tatear na escuridão, ele prefere concentrar seus esforços onde há luz, porque é onde se pode, mais provavelmente, ver algo interessante. Este é o princípio que guia sua atual pesquisa. O conflito entre a relatividade e a mecânica quântica ocorre quando se tenta analisar os efeitos da gravidade a distâncias extremamente curtas, observa ele, então decidiu dar uma boa olhada no que está acontecendo lá mesmo. “Aposto que há uma experiência que podemos fazer, a qual poderia ver algo a respeito que está acontecendo, sobre aquela interface que nós ainda não compreendemos,” diz.
Uma suposição básica na física de Einstein – uma suposição que remonta a Aristóteles, realmente – é a de que o espaço é contínuo e infinitamente divisível, de forma que qualquer distância poderia ser dividida em distâncias ainda menores. Mast Hogan questiona se isso é de fato verdade. Assim como um pixel é a menor unidade de uma imagem na tela, e um fóton é a menor unidade de luz, argumenta ele, deve então haver uma menor unidade de distância não fracionável: um quantum de espaço.
O espaço fracionado não se alinha direito com as ideias da teoria das cordas – ou em qualquer outro modelo físico proposto.
No cenário de Hogan, não faria sentido perguntar como a gravidade se comporta a distâncias menores do que um só pedaço de espaço. Não haveria como a gravidade funcionar nas menores escalas porque tais escalas não existiriam. Ou, posto de outra forma, a relatividade geral seria forçada a fazer as pazes com a física quântica, porque o espaço no qual os físicos medem os efeitos da relatividade iria ser dividido em unidades quânticas não fracionáveis. O teatro de realidade no qual a gravidade atua se realizaria em um palco quântico.
Hogan reconhece que seu conceito soa um tanto estranho, mesmo para vários de seus colegas no lado quântico das coisas. Desde o final da década de 1960, um grupo de físicos e matemáticos vem desenvolvendo um conjunto de ideias chamado teoria das cordas para ajudar a conciliar a relatividade geral com a mecânica quântica; com o passar dos anos, ela se tornou a teoria padrão principal, mesmo tendo falhado em concretizar muito de sua promessa inicial. Assim como a solução de espaço fracionado, a teoria das cordas prevê uma estrutura fundamental para o espaço, mas daí em diante ambas divergem. A teoria das cordas postula que todo objeto no universo consiste em cordas vibratórias de energia. Assim como o espaço fracionado, a teoria das cordas evita uma catástrofe gravitacional ao introduzir uma escala finita, ínfima, ao universo, embora as cordas de unidade sejam drasticamente menores até mesmo do que as estruturas espaciais que Hogan está tentado encontrar.
O espaço fracionado não se alinha perfeitamente com as ideias da teoria das cordas – ou em qualquer outro modelo físico proposto, para aquela questão. “é uma nova ideia. Não está nos livros;não é uma previsão de qualquer teoria padrão,” diz Hogan, aparentando não estar minimamente preocupado. “Mas não há qualquer teoria padrão, certo?”
Se ele estiver certo a respeito do fracionamento do espaço, isso derrubaria uma porção de formulações atuais da teoria das cordas e inspiraria uma nova abordagem para reformular a relatividade geral em termos quânticos. Sugeriria novas formas de compreender a natureza inerente do espaço e tempo. E o mais estranho de tudo, talvez, reforçaria a noção de que nossa realidade aparentemente tridimensional é composta de unidades bidimensionais mais básicas. Hogan leva a sério a metáfora do “pixel”: assim como uma imagem de TV pode criar a impressão de profundidade a partir de uma porção de pixels planos, ele sugere, o próprio espaço poderia emergir de uma coleção de elementos que atuam como se residissem em apenas duas dimensões.
Assim como várias ideias de ponta da física teórica hodierna, as especulações de Hogan podem soar suspeitas, como o filosofar tarde da noite no dormitório do primeiranista O que as torna drasticamente diferentes é que ele planeja colocá-las em um duro teste experimental. Agora mesmo.
Iniciando em 2007, Hogan começou a pensar em construir um dispositivo que pudesse medir a imensamente fina granulosidade do espaço. Como soube, seus colegas tinha muitas ideias abore como fazer aquilo, utilizando tecnologia desenvolvida para procurar ondas gravitacionais. Em dois anos, Hogan havia formulado uma proposta e estava trabalhando com colaboradores no Fermilab, Universidade de Chicago e outras instituições para construir uma máquina detectora de frações, que ele, mais elegantemente, chama de “holômetro”. (O nome é um trocadilho esotérico, que faz referência a um instrumento de pesquisas do século 17 e à teoria de que o espaço bidimensional 2D poderia parecer tridimensional, análogo a um holograma.)
Sob suas camadas de complexidade conceitual, o holômetro é tecnologicamente pouco mais que um feixe de raios laser, um espelho meio-refletivo para dividir o laser em dois feixes perpendiculares, e dois outros espelhos para fazer ricochetear esses feixes ao longo de um par de túneis de 40 metros de extensão. Os feixes são calibrados para registras as locações precisas dos espelhos. Se o espaço for fracionado, as localizações dos espelhos oscilariam constantemente (estritamente falando, o próprio espaço está causando a oscilação), criando uma constante variação aleatória em sua separação. Quando os dois feixes são recombinados, eles estariam levemente fora de sincronia, e a quantidade de discrepância revelaria a escala das frações de espaço.
Para a escala de grau de fracionamento que Hogan espera descobrir, ele necessita medir distâncias com uma precisão de 10-18m, cerca de 100 milhões de vezes menor do que um átomo de hidrogênio, e coletar dados a uma taxa de cerca de 100 milhões de leituras por segundo. Surpreendentemente, uma experiência assim não só é possível, como também prática. “Nós podemos fazê-la de forma muito barata devido aos avanços na fotônica, uma porção de peças de uso geral, eletrônicos velozes e coisas assim,” diz Hogan. “É uma experiência altamente especulativa, portanto, não a faríamos se não fosse barata.” O holômetro está atualmente em plena atividade, coletando dados com a precisão determinada; ele espera ter leituras preliminares no final do ano.
Hogan tem também ferozes céticos, inclusive vários pertencentes à comunidade da física teórica. O motivo da discórdia é fácil de entender: um sucesso do holômetro significaria o fracasso de muito do trabalho que está sendo feito a respeito da teoria das cordas. No entanto apesar dessa discórdia superficial, Hogan e a maioria de seus colegas teóricos compatilham uma profunda convicção básica: eles concordam amplamente que acabará sendo provado que relatividade geral se subordinará à mecânica quântica. As três outras leis da física obedecem regras quânticas, portanto, faz sentido pensar que a gravidade também deverá obedecê-las.
Entretanto para a maioria dos teóricos da atualidade, a crença na primazia da mecânica quântica vai ainda mais fundo. A um nível filosófico – epistemológico –, eles vêem a realidade de larga escala da física clássica como uma espécie de ilusão, uma aproximação que emerge dos aspectos mais "verdadeiros" do mundo quântico operando em uma escala extremamente pequena. O espaço fracionado certamente se alinha com tal visão das coisas.
Hogan compara seu projeto ao marcante experimento Michelson-Morley do século 19, que procurava o éter – a hipotética substância do espaço que, segundo a principal teoria da época, transmitia a luz através de um vácuo. O experimento não levou a nada; aquele desconcertante resultado nulo ajudou a inspirar a teoria da relatividade especial de Einstein, a qual, por sua vez, levou à criação da teoria da relatividade geral e, finalmente, pôs todo o universo da física de cabeça para baixo. Contribuindo para a conexão histórica, o experimento Michelson-Morley também mediu a estrutura do espaço utilizando espelhos e um feixe de luz dividido, seguindo um arranjo notavelmente similar ao de Hogan.
“Estamos fazendo o holômetro dentro daquele espírito. Será interessante tanto se não virmos algo, como se virmos algo. O motivo do experimento é somente ver se podemos encontrar algo para guiar a teoria,” diz Hogan. “Descobrimos como nossos colegas teóricos são pela forma como eles reagem a esta ideia. Há todo um universo de pensamento matemático por aí. Esperoum resultado experimental que force as pessoas a se concentrarem no pensamento teórico em uma direção diferente.”
Encontre ou não seua estrutura quântica do espaço, Hogan está confiante em que o holômetro irá ajudar a física a lidar com seu problema do pequeno-grande. Ele irá mostrar a maneira certa (ou descartar a errada) de compreender a estrutura quântica do espaço subjacente e como aquilo afeta as leis relativísticas da gravidade fluindo através dela.
Uma visão mais ampla
Se você está à procura de uma dierção totalmente diferente, Smolin, do Instituto Perimeter é a pessoa certa. Enquanto Hogan é mais sutilmente contra o fracionamento, Smolin é um dissidente radical: “Há uma coisa que Richard Feynman me disse quando eu era estudante diplomado. Ele disse, mais ou menos assim, ‘se todos os seus colegas tentaram demonstrar que algo é verdadeiro e não conseguiram, a razão disso é que talvez aquilo não seja mesmo verdadeiro.’ Bem, a teoria das cordas está aí há uns 40 ou 50 anos sem qualquer avanço definitivo.”
E isso é apenas o começo de uma crítica mais ampla. Smolin acha que a abordagem de pequena escala da física é inerentemente incompleta. As versões atuais da teoria do campo quântico dão uma boa contribuição ao explicarem como partículas individuais ou pequenos sistemas de partículas se comportam, mas deixam de levar em conta o que é necessário para se ter uma teoria sensível do cosmos como um todo. Elas não explicam por que a realidade é assim, e não de outra forma. Nos termos de Smolin, a mecânica quântica é meramente “uma teoria de subsistemas dos universo”.
Um caminho adiante mais frutífero, sugere ele, é considerar o universo como um enorme sistema único, e formular um novo tipo de teoria que pode se aplicar ao todo. E nós já temos uma teoria que fornece a base para aquela abordagem: a relatividade geral. Diferentemente da base quântica, a relatividade geral não contempla um observador ou relógio externos, simplesmente porque não há "exterior”. Em vez disso, toda a realidade é descrita em termos de relacionamentos entre objetos e entre diferentes regiões do espaço. Mesmo algo básico como a inécia (a resistência de um carro a se movimentar até ser forçado a isso pelo motor, e sua tendência a se manter em movimento depois de se tirar o pé do acelerador) pode ser pensada como estando conectada ao campo gravitacional de todas as demais partículas no universo.
‘E se o universo fosse totalmente vazio, exceto para dois astronautas, um deles girando, e o outro, estacionário?'
Esta última afirmativa é suficientemente estranha para merecer uma pausa momentânea a fim de ser considerada mais atentamente. Considere um problema de reciocínio, intimamente relacionado ao que originalmente levou Einstein a esta ideia, em 1907. E se o universo fosse completamente vazio, à exceção de dois astronautas? um deles está girando, e outro, estacionário. O que gira se sente tonto, dando cambalhotas no espaço.
Mas qual dos dois está girando? Da perspectiva de qualquer um dos astronautas, o outro é que está girando. Sem qualquer referência externa, argumentou Einstein, não há como dizer qual dois dois está certo, e não há razão por que um deles deveria sentir um efeito diferente daquele que o outro experimenta.
A distinção entre os dois astronautas só faz sentido quando se reintroduz o restante do universo. Na interpretação clássica da relatividade geral, então, a inércia só existe porque se pode medi-la contra todo o compo gravitacional cósmico. O que é verdadeiro para aquele problema de raciocínio é verdadeiro para qualquer objeto no mundo real: o comportamento de cada parte está inextricavelmente relacionado ao de qualquer outra parte. Se você algum dia sentiu que queria fazer parte de algo grande, bem, este é o tipo certo de física para você. É também, como pensa Smolin, uma forma promissora de obter respostas maiores sobre como a natureza realmente funciona, em todas as escalas.
“A relatividade geral não é uma descrição de subsistemas. É uma descrição do universo inteiro como um sistema fechado,” diz ele. Quando físicos estão tentando resolvee o conflito ente a relatividade e a mecânica quântica, portanto, parece ser uma estratégia inteligente eles seguirem a pista de Einstein e irem o mais longe que puderem.
Smolin está bastante consciente de que está indo contra a devoção ao pensamento de estilo quântico de pequena escala prevalecente. “Eu não tenho a intenção de agitar as coisas; é que apenas acontece que dessa forma. Meu papel é pensar claramente sobre essas difíceis questões, expor minhas conclusões, e deixar a poeira baixar,” diz ele, genialmente. “Espero que as pessoas se engagem aos argumentos, mas eu realmente espero que os argumentos levem a previsões que possam ser testadas.”
À primeira vista, as ideias de Smolin soam como um formidável ponto de partida para experiências concretas. Assim como todas as partes do universo estão ligadas pelo espaço, elas podem também estar ligadas pelo tempo, ele sugere. Seus argumentos o levaram à hipótese de que as leis da física evoluem durante a história do universo. Com os anos, ele desenvolveu duas detalhadas propostas sobre como isso poderia acontecer. Sua teoria da seleção natural cosmológica, que ele concluiu na década de 1990, concebe os buracos negros como ovos cósmicos que dão origem a novos universos. Mais recentemente, ele desenvolveu uma hipótese provocadora sobre o surgimento das leis da mecânica quântica, chamada o princípio da precedência – e esta parece muito mais próxima de ser posta à prova.
O princípio de precedência de Smolin surge como uma resposta para a pergunta de por que os fenômenos físicos são reprodutíveis. Se você realizar uma experiência que já foi realizada anteriormente, esperará que o resultado seja o mesmo que o anterior. (Risque um fósforo e ele se incendeia; risque outro da mesma forma e… você percebe a ideia.) A reprodutibilidade é um aspecto da vida tão familiar que nós geralmente nem mesmo pensamos a respeito dela. Nós simplesmente atribuímos resultados consistentes à ação de uma "lei" natural que atua da mesma forma, todas as vezes. A hipótese de Smolin diz que essas leis, na verdade, podem surgir com o tempo, assim como os sistemas quânticos copiam o comportamento de sistemas similares no passado.
Uma maneira possível de flagrar o surgimento no ato é realizar uma experiência que nunca tenha sido feita antes, de forma que não haja uma versão passada (isto é, sem precedentes) para ela copiar. Uma experiência assim pode envolver a criação de um sistema quântico altamente complexo, contento muitos componentes que existem em um novo estado enredado. Se o princípio de precedência estiver correto, a resposta inicial do sistema será essencialmente aleatória. Quando a experiência for repetida, no entanto, a precedência se reforça e a resposta deverá se tornar previsível… em teoria. “Um sistema pelo qual o universo está acumulando precedentes seria difícil de distinguir dos ruídos da prática experimental,” admite Smolin, “mas não é impossível.”
Embora a precedência possa ocorrer na escala atômica, sua influência se daria em todo o sistema, seria cósmica. Isso remete à ideia de Smolin de que o pensamento reducionista de pequena escala parece ser o jeito errado de resolver grandes charadas. Fazer as duas classes de teorias físicas trabalharem juntas, embora importante, também não é suficiente. O que ele quer saber – o que todos nós queremos saber – é por que o universo é como é. Por que o tempo flui para a frente, e não para trás? Como nós viemos parar aqui, com essas leis e esse universo, e não quaisquer outros?
A atual falta de qualquer resposta que faça sentido para essas questões revela “algo profundamente errado com nossa compreensão da teoria do campo quântico”, diz Smolin. Assim como Hogan, ele está menos preocupado com o resultado de qualquer experimento do que está com programa maior de procurar verdades fundamentais. Para Smolin, isso significa poder contar uma história completa e coerente a respeito do universo; significa poder prever experimentos, mas também explicar as propriedades únicas fizeram os átomos, planetas, arcos-íris e pessoas. Aqui, mais uma vez, ele busca inspiração em Einstein.
“A lição da relatividade geral, de novo e de novo, é o triunfo do relacionalismo,” diz Smolin. A forma mais provável de obter as grandes respostas é engajar-se com o universo como um todo.
E o vencedor é?
Se alguém quiser escolher um árbitro para o debate do grande-pequeno, dificilmente haveria alguém lehor do que Sean Carroll, especialista em cosmologia, teroria de campo e física gravitacional do Caltech. Ele sabe todas as respostas sobre relatividade, sabe todas as respostas sobre mecânica quântica, e tem uma saudável noção do absurdo: ele chama seu blog pessoal de Universo Insensato. De imediato, Carroll dá a maior parte dos pontos ao lado quântico. “A maioria de nós neste jogo acredita que a mecânica quântica é muito mais fundamental do que a relatividade,” diz ele. esta tem sido a visão preponderante desde a década de 1920, quando Einstein tentou e falhou repetidamente em encontrar furos nas previsões contra intuitivas da teoria quãntica. O recente experimento holandês que demonstrou uma instantânea conexão quântica entre duas partículas separadas por uma grande distância – o tipo de evento que Einstein desprezou como “uma ação fantasmagórica à distância” – somente enfatiza a força da prova.
Vendo por uma perspectiva mais ampla, o problema real não é a relatividade geral versus a teoria do campo quântico, explica Carroll, mas a dinâmica clássica versus a dinâmica quântica, A relatividade, apesar de sua percebida estranheza, é clássica na forma como vê causa e efeito; a mecânica quântica, definitivamente, não o é. Einstein era otimista em relação a que algumas descobertas mais profundas revelariam uma realidade clássica determinística oculta sob a mecânica quântica, mas tla ordem ainda não foi descoberta. A realidade demonstrada da ação fantasmagórica à distância diz que tal ordem não existe.
Se tanto, as pessoas menosprezam o quanto a mecânica quântica joga pelos ares nossas noções de espaço e localidade [a ideia de que um evento físico só pode afetar suas imediações]. Essas coisas simplesmente não estão lá na mecânica quântica,” diz Carrol. Elas podem ser impressões em larga escala que surgem de fenômenos de pequena escala muito diferentes, como o argumento de Hogan sobre a realidade 3D surgindo de unidades de espaço quânticas 2D.
Apesar de seu aparente apoio, Carroll vê o holômetro de Hogan como algo de sucesso improvável, mas que vale a pena tentar, embora admita tê-lo eliminado de sua área de pesquisas. Por outro lado, ele não considera algo fundamental os esforços de Smolin em começar com o espaço; ele acredita que a ideia é tão absurda quanto tentar argumentar que o ar é mais fundamental do que os átomos. No tocante a qual tipo de sistema quântico poderá levar a física ao próximo patamar, Carroll permanece bastante otimista em relação à teoria das cordas, a qual ele diz que “parece ser uma extensão muito natural da teoria do campo quântico”. De todas essas formas, ele é leal à corrente de pensamento principal da física moderna baseado na mecânica quântica.
Ainda assim, o regramento de Carroll, embora quase totalmente pró-quântico, não é apenas um apoio ao pensamento de pequena escala. Ainda existem enormes lacunas no que a teoria quântica pode explicar. “Nossa inabilidade em imaginar a versão correta da mecânica quântica é algo vergonhoso,” diz ele. “E nossa atual forma de pensar sobre a mecânica quântica é simplesmente um fracasso total quando se tenta pensar sobre a cosmologia ou todo o universo. Nós não sabemos sequer o que é o tempo.” Tanto Hogan quanto Smolin apoiam este sentimento, embora discordem sobre o que fazer em resposta. Carroll prefere uma explicação pormenorizada na qual o tempo surge de interações quânticas de pequena escala, mas se declara “totalmente agnóstico” sobre a sugestão concorrente de Smolin de que o tempo é mais universal e fundamental. No caso do tempo, então, o júri ainda não chegou a um veredito.
Não importa como as teorias se comprovam, a grande escala é inapelavelmente importante, porque trata-se do mundo que habitamos e observamos. Em essência, o universo como um todo é a resposta, e o desafio para os físicos é descobrir meios de fazê-lo brotar de suas equações. Mesmo que Hogan esteja certo, suas frações de espaço têm de estar na média da realidade contínua que vivemos todos os dias. Mesmo que Smolin esteja errado, há todo um cosmos aí com propriedades únicas que precisam ser explicadas – algo que, ao menos por enquanto, a física quântica sozinha não consegue fazer.
Ao ampliar as fronteiras da compreensão, Hogan e Smolin estão ajudando o campo da física a estabelecer aquela conexão. Eles o estão levando gradualmente em direção a uma reconciliação não só entre a mecânica quântica e a relatividade geral, mas também entre ideia e percepção. A próxima grande teoria da física irá indubitavelmente levar a uma bela nova matemática e inimagináveis novas tecnologias. Mas a melhor coisa que ela poderá fazer será criar um significado mais profundo que se conecte a nós, os observadores, que nos leve a definirmos nós mesmos como a escala fundamental do universo.
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