Por: Redação Vigília
Reunião pública da NASA sobre fenômenos anômalos não identificados (Reprodução: NASA/Youtube)
A NASA realizou uma reunião pública em 31 de maio de 2023 com a participação de sua equipe de estudo independente para fenômenos anômalos não identificados (UAP). O evento, que está sendo considerado histórico por algumas correntes na Ufologia, foi seguido por uma teleconferência com a mídia, onde a mídia pôde fazer perguntas.
Essa é a primeira vez que a agência espacial dos EUA se coloca numa condição de discutir abertamente o fenômeno óvni e encará-lo de uma forma científica, ao menos publicamente. Os membros do painel independente da NASA que estudam UFOs, ou o que o governo dos EUA agora chama de UAP (sigla em inglês para fenômenos anômalos não identificados), disseram em sua primeira reunião pública que a falta de dados de alta qualidade e um estigma persistente são os maiores obstáculos para desvendar tais mistérios.
A reunião foi conduzida por Dan Evans, vice-administrador assistente da NASA para pesquisa, e David Spergel, este último ocupando a posição de chefe da equipe de estudo independente da NASA. Os painelistas incluíam Nadia Drake, Paula Bontempi, Federica Bianco, David Grinspoon, Karlin Toner, Josh Semeter e Jennifer Buss na fila de trás. Na primeira fila estavam Walter Scott Warren Randolph, Reggie Brothers, Shelly Wright, Scott Kelly, Anamaria Berea e Mike Gold.
Além deles, participou como convidado o Dr. Sean Kirkpatrick. Ele não é integrante da equipe independente, mas dirige o Escritório de Resolução de Anomalia de Todos os Domínios (AARO), o novo órgão do Pentágono responsável por investigações de óvnis (ou UAPs). Sua presença e exposição de dados durante a reunião indica que a NASA e sua equipe têm trabalhado de forma bastante próxima ao AARO e suas investigações.
Objetivo era a ciência envolvida, não respostas sobre UAPs
O presidente do painel, o astrofísico David Spergel, disse que o papel de sua equipe não era “resolver a natureza desses eventos” (os UAP), mas sim dar à NASA um “roteiro” para orientar a análise futura.
O maior desafio citado pelos membros do painel foi a falta de métodos cientificamente confiáveis para documentar óvnis. O problema subjacente é que os fenômenos em questão geralmente são detectados e registrados com câmeras, sensores e outros equipamentos não projetados ou calibrados para observar e medir com precisão tais peculiaridades.
“Se eu resumisse em uma linha o que sinto que aprendemos, é que precisamos de dados de alta qualidade”, disse Spergel.
Ele destacou ainda que um dos grandes problemas da área é o estigma em relação aos discos voadores, que faz com que muitos pilotos comerciais, por exemplo, prefiram não relatar seus avistamentos. Ele explica que um dos objetivos da NASA é acabar com esse estigma, pois os profissionais do setor aéreo podem fornecer dados de alta qualidade sobre o fenômeno. Além disso, a agência pretende contribuir para projetar novos e melhores sensores e instrumentos para documentar e analisar fenômenos anômalos.
Balões, fenômenos atmosféricos e erros de interpretação
O diretor do Escritório de Resolução de Anomalia de Todos os Domínios (AARO), Sean Kirkpatrick, afirmou que a agência espacial teve acesso a mais de 800 avistamentos de UAPs. Deste total, contudo, apenas entre 2% e 5% são observações realmente anômalas. Segundo ele, a maioria dos relatos foi descartada, pois foram facilmente explicados por suas características prosaicas.
Os cientistas do painel apontaram fenômenos atmosféricos, além de balões, lixo levado pelo vento, drones e aeronaves convencionais como alguns dos principais responsáveis.
Em um momento, durante a audiência, um vídeo feito por uma aeronave da Marinha sobre o oeste dos EUA mostrou uma série de pontos se movendo pelo céu noturno. O avião militar foi incapaz de interceptar o objeto, mas a investigação aprofundada teria demonstrado tratar-se de uma aeronave comercial indo em direção a um grande aeroporto.
Tentando ilustrar como erros de interpretação e fenômenos inesperados podem afetar análises pontuais, David Spergel mencionou um episódio relativamente bem conhecido no meio científico, sobretudo entre pesquisadores da área SETI (Search For Extraterrestrial Intelligence, ou busca por inteligências extraterrestres).
O caso aconteceu na Austrália, quando uma explosão de ondas de rádio foi captada por pesquisadores. “Eles tinham uma estrutura realmente estranha. As pessoas não conseguiam entender o que estava acontecendo. Então começaram a notar muitos deles [sinais] agrupados em torno da hora do almoço”, disse ele.
Acontece que os instrumentos sensíveis usados pelos pesquisadores estavam captando sinais de um micro-ondas usado para aquecer seus almoços.
Scott Kelly, ex-astronauta e piloto com décadas de experiência, contou uma história sobre uma ilusão óptica. Ele e seu copiloto estavam voando perto de Virginia Beach e seu colega “estava convencido de que voamos por um OVNI”.
“Eu não vi. Nós demos meia-volta, fomos olhar, acabou sendo Bart Simpson – um balão.”
Fenômenos realmente não identificados e estranhos
Apesar os casos práticos, a equipe da NASA não desacreditou todos os casos e mostrou considerar que alguns avistamentos, de fato, são mais misteriosos e difíceis de explicar.
Um relatório separado do Pentágono em 2021 disse que dos 144 avistamentos feitos por pilotos militares desde 2004, todos menos um permaneceram inexplicados. Os funcionários não descartaram a possibilidade de os objetos serem extraterrestres.
Apesar disso, a hipótese extraterrestre não é a primeira linha de trabalho dos cientistas independentes a serviço da NASA, pelo menos por enquanto.
Limites para as investigações
Sean Kirkpatrick também observou que preocupações com privacidade limitam as investigações da agência.
“Podemos apontar o maior aparato de coleta em todo o mundo para qualquer ponto que quisermos”, disse ele. [Mas] “muito do que temos é em torno dos Estados Unidos continentais”, acrescentou. “A maioria das pessoas … não gosta quando apontamos todo o nosso aparato de coleta para o seu quintal”, disse.
Segundo ele, os dados relacionados aos UAPs geralmente são difíceis de interpretar e podem ser facilmente distorcidos.
No final da audiência, o painel respondeu perguntas do público. Uma delas foi “O que a Nasa está escondendo?” Dan Evans da Nasa respondeu que a agência está comprometida com a transparência. “É por isso que estamos aqui ao vivo na TV hoje”, disse ele.
A equipe independente de pesquisas sobre UAP da NASA é formada por 16 membros e foi anunciada pela agência no ano passado. Os pesquisadores deverão divulgar até o final de julho desse ano seu relatório definitivo sobre os fenômenos em análise.
Em evidência, Gimbal, GoFast e as esferas voadoras
Apesar do clima ameno da reunião da NASA e das análises inconclusivas até o momento, a exposição dividiu opiniões na comunidade ufológica. De um lado, alguns pesquisadores consideraram bastante positivo o fato da agência espacial adotar uma postura de exposição pública quando ao tema, avaliando que isso pode incentivar mais cientistas e observadores qualificados a fornecerem novos e melhores dados sobre o fenômeno.
Grande parte dos ufólogos ainda vê com desconfiança o envolvimento da agência espacial. Historicamente, a NASA é acusada de saber mais do que divulga e produzir cortinas de fumaça para desacreditar potenciais evidências de visitação alienígena.
No entanto, entre os muitos comentários e análises sobre a reunião, um artigo assinado por Marik Von Rennenkampff para o site The Hill, publicado em 2 de junho, monopolizou parte das discussões que seguiram-se ao encontro.
Ex-analista do Departamento de Estado dos EUA, no Bureau de Segurança Internacional e Não Proliferação e ex-funcionário nomeado pelo governo Obama para o Departamento de Defesa dos EUA, Rennenkampff reparou que Kirkpatrick deu ênfase à observação de “esferas metálicas” em todo o mundo, o que seria uma evidência em primeira mão de tecnologia extraordinária. Afinal, como esferas sem asas ou formas aparentes de propulsão executariam “manobras” de qualquer tipo?
A mais nova divulgação do cineasta Jeremy Corbell, uma esfera voadora filmada de cima por um equipamento de vigilância numa zona de conflito no Iraque (Imagem: DoD/Jeremy Corbell)
Em sua apresentação, Kirkpatrick também descreveu as características mais frequentemente recebidas por seu escritório sobre UAPs. Essa gama de atributos, segundo o artigo, equivaleria a um perfil de UAP que a equipe de Kirkpatrick está “caçando”.
Curiosamente, esse perfil inclui objetos pequenos (de 3 a 13 pés de diâmetro) “esféricos”, capazes de voar em uma variedade de velocidades, desde “estacionárias” até duas vezes a velocidade do som, tudo isso na ausência completa de “exaustão térmica”, como calor de um motor. De particular interesse, como Kirkpatrick deixou claro, algumas dessas características altamente anômalas são observadas por meio de múltiplos sensores.
Para Marik von Rannenkampf, não é coincidência que o UAP típico de interesse da AARO seja bastante similar os registrados nos vídeos que ficaram conhecidos como “Gimbal” e “GoFast”, algumas das evidências mais conhecidas do público.
Confira, na íntegra, a reunião da NASA:
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